Fez a fama, deita na cama
Nos primeiros dois meses de aula, percebi que para que o filho não seja esquecido num canto da sala do maternal com 25 crianças, os pais precisam marcar presença de alguma forma, seja “puxando-saco” das professoras, seja reclamando.
A “escola perfeita” me mostrou seus problemas no primeiro contato e estou pensando se ela realmente vale a pena. Talvez, todas as escolas sejam ruins ou regulares mesmo e eu sonhe com algo impossível. Vai ver que é isso... O excesso de alunos por sala, limita demais a atenção que as professoras deveriam dar às crianças. Outro problema que encontrei foi o corporativismo negativo, onde a negligência é protegida quando deveria ser erradicada. Vamos ao caso.
O caso. No início do ano letivo, o Guilherme ainda não estava totalmente desfraldado fora de casa, por isso eu o mandei de fraldas por 3 semanas. Todavia, por perceber que ele estava ficando com o bumbum assado, o mandei de cuecas e avisei as professoras que ele deveria ser levado ao banheiro. As caras das professoras foram mais de “ e agora José?” que outra coisa. Como os coleguinhas do Guilherme ainda usam fraldas e de 25 alunos somente 1 estava em processo de desfralde, imaginei que não seria tão complicado para as “babás escolares” assumirem a função. Percebi meu engano dias depois. Bom, no primeiro dia tudo perfeito, recebi o Guilherme intacto, no segundo dia escapou o xixi e o Guilherme voltou com o shorte extra (mando 2 mudas de roupas e 1 sandália extra na mochila do Guilherme)... Certo, tudo bem, isso acontece.
Contudo...
No quinto dia sem fralda, ao retirar os tênis do Guilherme em casa, constatei o impensável: os tênis e as meias estavam encharcados de urina! Os pés da criança estavam brancos e enrugados como se molhados há horas. Ah, não! Tive tanta pena do meu bebê, tadinho! Quanto tempo ele passou com os pés molhados dentro do tênis, sentindo todo aquele incômodo e nenhuma daquelas criaturas lerdas fez nada? E a urina nas pernas queimando a pele? Que raiva eu tive nesse dia! Por que pagar tão caro para um tratamento no mínimo negligente? Que professoras de meia tigela eram aquelas? Como uma pessoa arranca o shorte e a cueca molhados sem tirar os tênis e meias? Tive vontade de chorar de raiva. Ainda por cima, lembrei-me que a professora nem sabia o nome do Guilherme, ela o chamava de Mateus! Se nem o nome do meu filho ela sabia, imagina o resto? A impressão que me deu foi que meu menino recebia atenção mínima, que era deixado de lado, que era desprezado. Nesta seqüência de pensamentos, lembrei-me do preço da mensalidade. Valia mesmo a pena? Bem que dizem: “Fez a fama, deitou na cama”. Decididamente, isso não ficaria assim!
Na segunda-feira, eu e o Rubens fomos à coordenação conversar com a professora juntamente com a coordenadora. Contei com calma o que havia acontecido, mas antes de terminar a professora começou seu discurso ensaboado de que isso acontecia, que era assim mesmo e blá, blá, blá... A coordenadora, ratificando o falatório da professora tentou fugir do assunto como se estivéssemos reclamando do fato do Guilherme ter feito xixi nas calças. Calei minha boca e deixei que elas falassem seu besteirol pedagógico tentando escapar do problema da negligência. Fui ficando irritada, bem irritada, muito irritada, pois a conversa estava tomando um rumo de “é assim mesmo” que nas entrelinhas queria dizer: vocês pais são uns exagerados, isso que aconteceu foi algo corriqueiro e sem importância para nós. Aí, pedi a palavra, encarei a coordenadora com os olhos pretos de raiva (meus olhos são verdes na maioria do tempo, rs), mudei o tom de voz e com firmeza bradei:
- Eu não quero que vcs diminuam o problema que aconteceu aqui!Olhei para a professora e continuei:
- O meu filho foi negligenciado na sua sala, professora. Deixar uma criança com os pés encharcados de urina a tarde toda não é um erro, mas sim uma atitude de quem não tem preparo para cuidar de crianças. Tenho certeza, professora, que não foi vc quem fez isso, mas foi uma de suas assistentes.Neste hora, olhei para a coordenadora e falei com todas as letras:
- Se um empregado meu fizesse isso com meu filho, no outro dia estaria na rua. Pensei até em retirar meu filho dessa escola, mas não posso cuidar dele...Aí, contei a história do câncer, para aproveitar a deixa e fazê-las ficar com peso na consciência, rs... A doença tem que servir para algo, né?
Terminei o sermão dizendo que aquela escola tinha um nome a zelar, mas o tratamento recebido não condizia com a fama. E mais, deles eu não esperava menos que o melhor, pois por isso havia colocado meus filhos sob os cuidados daquela escola.
Gente, a professora, macaca velha, começou a se desculpar, dizendo que eu tinha toda a razão e que ela cuidaria pessoalmente do desfralde do Guilherme. Eu gosto dessa professora e apesar do problema, continuo acreditando que ela é boa. Tanto que o Guilherme a adora, parou de chorar, em casa canta parabéns para a professora e até pede para ir para escola. O mesmo não posso falar as assistentes... Bem que tive essa impressão no primeiro dia e se confirmou com o passar das semanas.
Saí de lá orgulhosa de mim mesma, pois eu nunca havia conseguido argumentar tão bem e com tanta classe. Neste dia, eu agi como Senhora, e me senti uma rainha no exercício de seu poder. Besta....rs...
Antes da conversa, tive medo de ir à escola e marcarem o Guilherme, mas me convenci que eu precisava defendê-lo, mostrar que ele tinha uma mãe atenta a tudo pelo seu bem estar. Ninguém maltrataria meu menino sem conseqüências e deixei bem claro minha exigência de que meu filho fosse bem tratado.
Acho que consegui, rs, percebo que quando chego na porta da sala, as professoras param o que estão fazendo para me passar o relatório do dia do Guilherme. Elas devem pensar:
- Vixe! Lá vem a muié enjoada!
Rs...
Sol. Uma semana depois do ocorrido, tive que reclamar de novo por conta do horário da recreação aquática. Eu estava aborrecida com essa escola perfeita e não nego que tive vontade de tirar os meninos.
Apesar de tantas campanhas sobre os efeitos nocivos do sol, sobrou para turma do Guilherme usar a piscina às 14h30m, o pior horário para a criança ficar exposta ao sol. Afe! É duro lidar com tanto descaso, acho que eles fazem isso para ver se cola, caso ninguém reclame, fica assim mesmo. Recebi o bilhete e imediatamente argumentei com a professora sobre o horário. Vcs acreditam que a professora teve a capacidade de me dizer que era o melhor horário. Posso? Fui embora matutando o que eu faria. Impedir o Guilherme de participar da aula estava fora de questão, portanto a solução teria que ser a mudança do horário.
No dia seguinte, escrevi um requisição pedindo a alteração e argumentando sobre a saúde da pele das crianças. Mandei o papel assinado, em duas vias na agenda do Guilherme com pedido de recibo. Por pouco não foi protocolado, rs... Assim que entreguei o Guilherme, antes da professora receber o papel, ela me avisou que havia alterado a recreação aquática para as 16h. Rs... Saí de lá pensando se a reclamação da urina tinha surtido efeito para toda e qualquer pedido posterior para sempre e sempre... Será?
Cheguei a pensar por que outros pais não reclamavam... Será por inércia? Ou cansaço de nunca serem ouvidos? Cada um, cada um. Eu não tolero esse tipo de coisa de uma instituição cujo objetivo é ensinar. Portanto, vez por outra estou na sala da coordenadora pedindo explicações, rs...
Primeira. Como mãe de primeira viagem no quesito escola, todos os dias levo e busco os meninos, quase sempre sendo a primeira a apontar no início do corredor que dá para as salas. Quando eu era criança, lembro-me quão doloroso era ver todos os meus coleguinhas indo embora com suas mães e eu ficando. Chorei muito por vários anos... rs... Assim, antes do portão da escola abrir, às 17h45m, me posiciono na entrada para “correr” e pegar os meninos antes que eles pensem que os abandonei.
Agenda. Todos os dias abro as agendas das crianças para verificar os recados ou mandar alguns. Quando as lancheiras retornam com lanche demais por mais de dois dias... recadinho para a professora, pois preciso saber se foi oferecido o que mandei ou comeram o lanche dos colegas. Quando as lancheiras voltam sem absolutamente nada do lanche...recadinho para a professora colocando em dúvida como uma criança poderia ter comido ½ sanduíche de presunto, 1 maçã, 1 goiaba, 1 gelatina e um pouco de sucrilhos e não ter sobrado nem farelo. A questão é que fico na dúvida do que e quanto eles comeram. Rs... Eu não disse que seria uma pedra no pé das professoras?
Música do dia das mães. O Guilherme cantou para mim a musiquinha que está aprendendo para o dia das mães e consegui filma-lo:
“Tuc, tuc, tuc,Bate dentro do meu peitoUm coração que é só feitoPara amar a mamãezinhaQue é só minhaQue é só minha”Fiquei emocionada quando ele cantou a primeira vez. Tão bonitinho! Como ele conseguiu decorar a letra da música e cantar tão certinho? Confesso que fiquei surpresa por ele ter aprendido tão rápido a letra de uma musiquinha que eu nunca havia ensinado a ele. Achei tão legal! Acho que as lágrimas vão rolar no dia das mães... Alguém duvida?
Ele aprendeu o nome de todos os colegas e me conta todo dia alguma novidade:
- A Caoina (Carolina) dumiu (dormiu).
- O Pedo Xanche é meu coega (O Pedro Sanches é meu colega).
- Bati no Gutavo (Gustavo)
- É o niversaio da Juju.
- A mãe da Maia Cala (Maria Carla) ficou na pota (porta).
E assim por diante... o Guilherme é meu informante, rs... Às vezes me conta histórias compriiiidas que metade eu nem entendo. Que idade maravilhosa! Desses 2 nos sentirei muita saudade no futuro.
O Guilherme está uma esperteza só (conta de 1 até 20 sem errar!), além de pegar fogo pela casa junto com o Dudu. Ele está arteiro, fazendo seus experimentos com água espalhando tudo pelo chão. Joga comida do chão, cospe na roupa algum legume que não quer, arremessa brinquedos no Dudu e bate as portas para ouvir o barulhão. Todas essas artes são contidas com bronca, castigo ou palmadas. Adianta? Talvez, 50%, rs...
Ainda é obcecado por Hi5, tanto que quando o Dudu diz ser o Homem-Aranha, o Guilherme se auto entitula Hi5. Gosta de brincar de pega com o irmão e de soco. Soco? Isso mesmo. Sabem aquelas brincadeiras brutas dos meninos de bater um no outro? Pelo simples prazer de irritar o irmão, um começa a bater no outro. Parecem filhotinhos de gato ou cachorro. O Guilherme mete o pé no Dudu, o Dudu revida e assim vai até que nos aborrecem com a choradeira e os mãenhês e paiês.
Outro dia, depois de tentar apartar os anjinhos sem sucesso, o Rubens brigou com os meninos e colocou-os de castigo sentados um distante do outro.
Sabem o que aconteceu? Eles começaram a conversar, depois cantar e rir. Os prisioneirinhos haviam se unido! Rs... Passados vários minutos no castigo, perguntei cochichando ao Rubens se era hora de terminar. Meu marido perguntou:
Tem certeza? Escute a harmonia no lar.... Temos mesmo que tirá-los do castigo?
Comecei a rir...
Bola de sapato. O Guilherme adora bolas de todos os tipos e formas. Um dia, enquanto eu perguntava de que eram as bolas das figuras, me deparei com uma conclusão do menino no mínimo curiosa. Mostrei uma bola de basquete para ele e perguntei de que que era. Ele me disse: - bola de baquete! Mostrei uma bola de tênis para ele e perguntei de que que era. Ele me disse: - bola de sapato. Fiquei sem entender, mas depois de alguns segundos cai na gargalhada. O Guilherme trocou o tênis por sapato... Rs...
Ele pede para ler histórias enquanto está fazendo suas necessidades no banheiro. Pobres dos pais, rs... Tanto ele quanto o Dudu gostam de histórias com lobo mau.
O Guilherme continua muito carinhoso com todos que ele gosta. Quando vai embora da casa de minha mãe se despede da Mãe-Maria com um eu te amo. É a coisa mais linda do mundo! Quando se despede de mim para dormir, eu digo e ele também diz. Tão bonitinho!